
Doses da vacina contra a dengue devem ser distribuídas imediatamente
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o registro da vacina contra a dengue produzida pela Sanofi, divisão da Sanofi Pasteur. A informação foi divulgada nesta segunda-feira (28) no Diário Oficial da União. No Brasil, o medicamento foi testado em Vitória e em Natal, Fortaleza, Goiânia e Campo Grande. O produto deve chegar ao mercado em três meses.
Segundo o Ministério da Saúde, a vacina apresentou eficácia global contra dengue confirmada contra qualquer dos quatro tipos de dengue de 66% na população acima de 9 anos de idade. E reduziu até 93 % dos casos severos da doença.
Com isso, a empresa poderá comercializar a Dengvaxia, que já tinha sido aprovada no México e nas Filipinas no início deste mês. Essa é a primeira vacina contra a doença a ser aprovada no Brasil. Ela é considerada eficaz na prevenção dos quatro tipos de dengue e poderá ser aplicada em pessoas de 9 a 45 anos, segundo comunicado divulgado pelo laboratório.
O esquema de vacinação aprovado foi o intervalo de seis meses entre as doses, segundo a Anvisa. De acordo com a Sanofi, o laboratório está pronto para colocar a vacina no mercado nos três próximos meses, mas esse prazo vai depender de negociações com as autoridades brasileiras – processo que em média dura também esse mesmo período.
A decisão de fornecê-la no Sistema Único de Saúde é do Ministério da Saúde, que levará em conta fatores como a relação entre custo, efetividade e impacto orçamentário.
Arma
O infectologista Paulo Peçanha destaca que essa é uma ótima notícia para o combate à dengue. “Teremos mais uma arma para lutar contra esse problema que é muito sério. Entendemos que a vacina será muito útil nos casos mais graves, de internação”.
Ele ressalta que a batalha contra a dengue não está sendo vencida somente no combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor dos vírus.
Mas o real impacto da vacina só será conhecido após sua aplicação na população geral, diz o infectologista Crispim Cerutti Júnior. “Quando um produto é lançado se acompanha seu desempenho durante um tempo. Essa fase poderá nos dizer com mais clareza a capacidade da vacina”.
Ele alerta que o medicamento não foi feito para combater zika e chikungunya, outros vírus transmitidos pelo mosquito. “Para reduzir a proliferação, a expectativa é trabalhar com uma barreira biológica, como o mosquito transgênico”, diz.
O infectologista Reynaldo Dietze trabalhou em Vitória em testes para a pesquisa do funcionamento da vacina aprovada ontem. A Capital foi escolhida por ser uma área de alto risco e epidemias constantes. Veja trechos da entrevista concedida a Fernanda Queiroz na CBN Vitória.
A vacina é a ideal?
Esse foi um avanço, mas não é a vacina ideal na minha opinião. O estudo ainda não acabou, nós continuamos e deve se estender por mais dois anos para que se consiga avaliar, por exemplo, se haverá a necessidade de um reforço ou não dessa vacina. E há um equivoco, não se deve falar de proteção média de eficácia é de 66% sendo que há quatro vírus diferentes. Sabemos que em uma epidemia de dengue 3 ou 4 ela tem eficácia de 76%, enquanto de 1 e 3 é abaixo de 50%.
Por que a vacina não é para todos?
Não acho que haveria problema vacinar alguém fora dessa faixa de 9 a 45 anos, mas a tendência do Ministério da Saúde, até por questões de custo, é restringir. Além disso, restringem-se porque um estudo é feito dentro de uma determinada faixa etária.
Esse medicamento pode funcionar para a zika?
Não, e pode ser até que acabe aumentando. Porque um mosquito não costuma comportar mais de um vírus e, estando liberados da dengue, sobra mais espaço para outros como a zika. Mas isso teria que ser demonstrado.
A expectativa do governo do Estado é de que, assim que for regulamentada pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamento, toda a produção da vacina seja comprada pelo Ministério da Saúde para ser distribuída nos Estados.
A decisão anunciada nesta segunda-feira de liberação da vacina contra dengue da Sanofi Pasteur, a Dengvaxia, não significa que o produto já está disponível no mercado. Ainda falta a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos definir o valor de cada dose, processo que dura em média três meses, mas não tem prazo máximo, conforme informado pela a Agência Brasil.
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS) ainda vai avaliar a possibilidade de agregar o produto ao sistema público de imunizações.
O governo ainda vai avaliar custo, efetividade e impactos epidemiológico e orçamentário do ingresso dessa vacina ao Sistema Único de Saúde.
Validação
Para validar a vacina, a primeira contra a dengue registrada no Brasil, a Anvisa observou a comprovação da qualidade, segurança e eficácia do produto, além da certificação de cumprimento das Boas Práticas de Fabricação e as respectivas autorizações sanitárias para o funcionamento da empresa fabricante. A análise de todos esses dados foi pautada na relação entre benefício e risco da vacina. (Portal Brasil)